quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ontem na Serra da Piedade

Este é o primeiro de uma série de textos a serem publicados a partir desta data até o dia do Encontro em Nova União. São pequenas reportagens, tipo aperitivo, esquenta, ou rufar dos tambores para as festas de Setembro de 2012. Este texto terá o título: carta aberta aos encontristas da EASO - um passeio pela Serra da Piedade, e todos os demais terão o titulo "Carta aberta aos encontristas da EASO - (com subtítulo dependendo do tema específico)

Caros encontristas da EASO,

No dia 09 de maio de 2012, fomos à Serra da Piedade. O dia estava bonito, embora um pouco nublado, a moçoila da televisão prometera chuviscos em toda Minas Gerais. Saímos de Belo Horizonte pelas 9 horas, a temperatura era amena. Fomos devagar, pois a estrada é cheia de curvas  e radares, chegamos ao topo da serra pelas 10 horas, fazia muito frio, e logo veio o chuvisco anunciado.


A distância de Belo Horizonte ao topo da serra é de aproximadaemtne 50 quilômetros, no mapa abaixo a distância é calculada em 47 quilômetros porque não soma a subida da serra que ainda não faz parte da rota no  google maps. Todo o percurso até o pé da serra é coberto pela tecnologia de fotos panorâmicas (google street view)




A coordenação dos encontros, em postagem deste blog,  link aqui , previu uma passagem pela serra, conforme reproduzido abaixo:

"DOMINGO (16 de Setembro de 2012): visita à Serra da Piedade, de onde se tem uma vista cinematográfica de toda a região e onde há uma belíssima capelinha. Haverá uma missa para quem se interessar. Lá, almoçaremos e retornaremos, em seguida, para Nova União. Aqueles que desejarem retornar às suas casas poderão fazê-lo à tarde".

De Nova União ao topo da Serra da Piedade, onde se localiza a capela, são cerca 25 quilômetros. De Nova União a  Belo Horizonte são aproximadamente 60 quilômetros. De Nova União  ao Caraça, local que também será visitado, são 40 quilômetros.  Resumo: toda essa região  faz parte da grande BH, ir daqui para ali nem chega a ser uma viagem. São distâncias muito pequenas que reunem importantes espaços e cenários da  história e da cultura mineira.
Então, nem precisa dizer que esta postagem sobre a Serra da Piedade é uma pequena amostra daquilo que de fato poderemos ver naquele pequeno paraiso feito de ferro e fé. Não sabemos quantos de nós já tiveram a oportunidade de ver aquela beleza natural, o que sabemos é que nunca é demais sentir aquele clima tão diferente a poucos quilômetros da Capital: faz frio medonho, tem silêncio que contamina, o ar é puro de doer os pulmões mais acostumados às baixadas; as nuvens passam  tão perto que podem arranhar os espíritos mais sensíveis. Não sei como escaparam da sanha férrea das mineradoras: aquelas agulhas, mais pedra que terra; aquelas grutas, mais solidão de que profundeza; aquelas árvores mais raizes de que troncos, folhas e flores, e tão diferentes das que crescem no pé da montanha. Ali, como numa exceção, a ciência e a religião caminham lada a lado, ninguém resiste a ninguém. Um lugar de romaria para os que acreditam nas coisas do céu cristão, e um lugar de estudos para quem quer compreender um pouco do céu  físico: dos astros - satélites, planetas, estrelas, galáxias, buracos negros.

Sabemos, não há foto que substitua a experiência de ver a montanha do pé ao topo, de pisar o chão, de sentir a diferença de pressão,  portanto, elas devem ser consideradas como meras representações das nuances que há por lá. A multiplicidade é grande:  musgos no chão; escadas sem significados; anfiteatros, alguns naturais, outros construídos para reunir romeiros; a vista de Caeté tão perto e BH quase no fim do horizonte, seria o nome originado dessa tomada?

Foto 01 - Localizada no topo da serra a capela Nossa Senhora da Piedade é a única construção histórica preservada no local. 


Foto 01 - Localizada no topo da serra a capela Nossa Senhora da Piedade é a única construção histórica preservada no local

Foto 02 Eu e Maria em frente da capela (uma nuvem prejudicou a qualidade da foto)


Foto 03 O altar da capela.


Foto 04 Visitamos a gruta do Eremita onde frei Rosário se recolhia.

Frei Rosário Joffily (1913 – 2000) quando era reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade localizada no topo dessa serra, confeccionou um croqui em papel vegetal (104 x 56cm) com os principais “caminhos” dos romeiros. Nesse roteiro estão destacadas algumas cavernas como a Gruta dos Monges, a Gruta de São Tomé, e também a Gruta do Eremita.   Topografia da Gruta do Eremita. Foto de Rafael Camargo.

O Monge e a Serra

São muitos os freis, dons e padres responsáveis pela história e pelas construções que hoje cobrem o chão da Serra da Piedade, vamos aqui destacar apenas um deles, o monge dominicano Frei Rosário Joffily (1913/2000) que tem seu nome vinculado a diversos marcos e monumentos daquela serra, do Observatório Astronômico da UFMG até a diminuta Gruta do Eremita. Mas alguns outros nomes não poderíamos deixar de citar mesmo que "en passant": Antonio Bracarena, do Irmão Lourenço, de Frei Luís de Ravena, Frei Francisco de Otranto, do Padre José Gonçalves, do Monsenhor Domingos Pinheiro, todos eles dedicaram suas vidas à construção ou manutenção do Santuário da Serra da Piedade e dos caminhos que permitem a tantos eremitas e romeiros a subirem aquela montanha em busca de suas realizações.
Frei Rosário era ecumênico e aberto às ideias, e abria as portas da igreja para todos aqueles que a procurassem. Essa característica o ligou a uma história que reúne política e religiosidade e que passa pela revolução e chega à nova república. Frei Rosário, ao que parece, não tinha preferência político-partidária declarada, e nem há evidências que tivesse qualquer simpatia pela esquerda, mas acolhia, sem medo de represálias, a qualquer um que o procurasse, e foi assim que abrigou gente perseguida pela então chamada revolução de 64.
Não se ligou à nova república por ideologia, mas alguns figurões da política desse movimento tinham grande simpatia por ele e fizeram da capela da Serra da Piedade um ponto para suas orações e uma referência nacional. Dois expoentes dessa corrente são: Israel Pinheiro e Tancredo Neves que frequentaram aquela capela em ocasiões importantes para suas vidas. Tancredo chamava a atenção da nação para Serra a Piedade sempre que começava uma jornada política de maior vulto, chegava lá com estardalhaço para pedir proteção da Santa na romântica Ermida da capela e talvez um conselho ao Frei Rosário, ingrato não era, pois, depois que vencia a eleição, voltava para agradecer e pedir a benção. Foi de lá que iniciou a campanha para a presidência da república e retornou para agradecer a vitória. A Serra ganhou com isso: tornou-se notícia e as obras de Frei Rosário, de repente, ficaram mais visíveis e é provável que tenham se beneficiado desse prestígio.
Não é fácil conhecer essas figuras lendárias pelas histórias que deles se contam. Frei Rosário pode nos parecer um homem aberto às ideologias da esquerda, se visto pelo que dele falam os que se esconderam na Serra durante o ano de 1964. Vai nos parecer um homem quase santo, se dele nos falam os eremitas e romeiros que frequentavam a Serra quando ele ainda era vivo. Para os políticos mineiros da Nova República, ele era uma espécie de guru cuja aura ganhava mais esplendor por confundir-se com a Capela e sua localização estratégica e com o simbolismo do pico, da paisagem mais que exuberante, da vista panorâmica. Os políticos gostam, até hoje, de ver seus nomes associados à grandeza da Serra e a religiosidade de quem frequenta a Capela. O grau de fé cristã por traz dos motivos e gestos que levaram e levam essas figuras de destaque ao topo da montanha nunca será totalmente conhecido: só políticos, só religiosos, ambos?
Se visto apenas pela sua obra, o Monge é responsável direta ou indiretamente: pela instalação de luz elétrica no Santuário de Nossa Senhora da Piedade; pela instalação de água suficiente para a demanda dos romeiros (1951); por conseguir o tombamento da área da Serra (1956), com isso pôs freio à mineradora que avançava sobre o local; por fazer gestões e conseguir, com a ajuda de Israel Pinheiro da Silva (natural de Caeté), que Nossa Senhora da Piedade fosse proclamada a padroeira de Minas Gerais (1960); pelas gestões que levaram ao asfaltamento da estrada até o topo da Serra (1968); pelas melhorias na praça em frente a Ermida; pela construção de um a Cripta (São José da Boa Morte) onde repousam os restos mortais de antecessores e do próprio Frei Rosário; a construção do Calvário em frente da Ermida (do outro lado da grande praça); a casa dos romeiros com 33 apartamentos e capacidade para até 120 pessoas.
 
 


Foto 05 - Vista de Caeté a partir do pátio da capela.


Foto 06 - Vista de Belo Horizonte a partir do patio da capela - vê-se também o telhado do Santuário, uma igreja maior e moderna.



Fotos 360 graus - recebi este link (abaixo da figura) e achei interessante colocar aqui, pois permite a visualização de diversos  espaços  no entorno da Capela da Serra da Piedade. Do lado direito da foto há um campo (Entrada)  que permite a seleção dos diversos locais (vide figura abaixo).




Impressões:

O local é muito bonito, uma vista panorâmica de todas as regiões vizinhas e de muitas montanhas.
A altitude é de 1780 m. Dizem que o alto da serra é frio em qualquer época.
Há um observatório astronômico lá em cima, mas estava fechado ontem.
Há uma lanchonete e um restaurante lá. A lanchonete estava aberta e é boa com banheiros grandes e limpos. Segundo me informaram, lá em cima ainda residem alguns padres e freiras.